A Cidade Ilhada

Relances da experiência vivida, recolhidos em tramas brevíssimas, de dicção enxuta em que tudo ganha nitidez máxima e máximo poder de iluminação — assim são as histórias que Milton Hatoum reuniu em seu primeiro volume de contos, “A cidade ilhada”. As sementes das histórias de Hatoum não poderiam ser mais diversas: a primeira visita a um bordel em “Varandas da Eva”; uma passagem de Euclides da Cunha em “Uma carta de Bancroft”; a vida de exilados em “Bárbara no inverno” ou “Encontros na península”; o amor platônico por uma inglesinha em “Uma estrangeira da nossa rua”. Com mão discreta e madura, Hatoum trabalha esses fragmentos da memória até que adquiram outro caráter: frutos do acaso e da biografia pessoal, eles afinal se mostram como imagens exemplares do curso de nossos desejos e fracassos. Desejos e fracassos, aliás, respondem pela rede subterrânea que amarra os contos de “A cidade ilhada”.

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